sexta-feira, 6 de abril de 2012

A nova economia inovando as ciências e as artes - parte 2 de 2

A nova economia inovando as ciências e as artes

- parte 2 de 2

O surgimento do renascimento, e seu maior desenvolvimento, se deram na Itália, para ser mais preciso, em cidades estado italianas, já que, nessa época, ainda não podemos falar em uma nação italiana com poder centralizado8. Vários fatores combinados ajudam a explicar a ocorrência do renascimento nas cidades italianas.

Com a liberação do Mar Mediterrâneo depois da quarta cruzada, as cidades de Gênova e Veneza ocuparam destaque central no ressurgimento do comércio, pois eram navios mercantes dessas cidades que faziam o transporte das mercadorias orientais até o território europeu. Logo, práticamente toda a Península Itálica passou a respirar os ares do comércio de longa distância e varias outras cidades passam a enriquecer e adquirir uma burguesia poderosa e influente, sobretudo Florença e Milão.

O capital circulante possibilitava que varias famílias de ricos banqueiros passem a financiar e proteger artistas para que produzissem suas obras com certa independência financeira e liberdade de criação, haja vista que, muitas obras poderiam atentar contra alguns dogmas estabelecidos, sobretudo os religiosos. Esses burgueses e outras autoridades que patrocinavam as atividades renascentistas ficaram conhecidos como mecenas.9

Por outro lado, outros fatores contribuem para o desenvolvimento renascentista na Península Itálica, foi nela que se estabeleceu a sede de um dos maiores impérios da humanidade, o Império Romano. Portanto, valores estéticos da antiguidade, dos quais os renascentistas se diziam herdeiros, ainda estavam presentes nas estátuas, ruínas de templos, estádios, viadutos e aquedutos que ainda funcionavam (alguns até os dias atuais) em cidades como Roma, Florença e Milão.

Os representantes mais importantes do Renascimento produziram e apresentaram suas obras nas cidades italianas. Entre eles estão: nas artes plásticas Giotto (1266-1337), Botticelli (1445-1510), Leonardo da Vinci (1452-1519), Rafael di Sanzio (1483-1520) e Michelangelo Buonarroti (1475-1564); na literatura Dante Alighieri (1265-1321), Petrarca (1304-1374), e Bocaccio (1313-1375); nas ciências Galileu Galilei (1564-1642), Giordano Bruno (1548-1600) e Nicolau Maquiavel (1469-1527).

A Criação de Adão de Michelangelo, 1511. Representa o episódio do Gênesis no qual Deus cria o primeiro homem: Adão. Capela Sistina, Vaticano, Itália.

David. Michelangelo retrata o herói bíblico com realismo anatômico. 1504. Academia de Belas Artes, Florença, Itália.

Escola de Atenas de Rafael, 1506-1510. Palacio Apostolico, Vaticano, Itália.




Pietá de Michelangelo representa Jesus morto nos braços da Virgem Maria. 1498. Basílica de São Pedro, Vaticano, Itália.


Porém o movimento renascentista se espalha pela Europa e se desenvolve também na Holanda com o escritor Erasmo de Roterdam (1466-1529), e com os pintores Pieter Brueghel e os irmãos Jan e Hubert van Heyck. Na Inglaterra com o teatro de William Shakeaspeare. Na França com as comedias escritas por Rabelais e com o filósofo Michel Montaigne. E nos países ibéricos grandes escritores como Miguel de Cervantes e Luis de Camões também são considerados artistas renascentistas.

O Casal Arnolfini de van Eyck, 1434, caracterizado pelo naturalismo e realismo, representa a burguesia comerciante belga. Galeria Nacional de Londres, Inglaterra.

O espírito renascentista, como se conclui facilmente, acabou influenciando outras áreas do conhecimento. Os fenômenos da natureza, o comportamento humano e as relações sociais já não são mais explicadas pelo viés teocêntrico, como revelação e obras de Deus. Agora o homem renascentista observa, experimenta, descobre, tira conclusões e desenvolve meios de explicação do mundo.

Em outras palavras, o renascimento cultural contribui para o desenvolvimento do espírito crítico e passa a valorizar cada vez mais a ciência como meio de se descobrir novos elementos, inventar novas técnicas de trabalho e de entendimento da natureza e do universo.

É nesse contexto que se explica, por exemplo, o espírito investigativo de cientistas como o polonês Nicolau Copérnico (1473-1543) quando demonstrou que a terra gira em seu próprio eixo e que os planetas se movem em torno do Sol, o heliocentrismo, teoria que depois foi confirmada pelo italiano Galileu Galilei (1564-1642) e pelo alemão Johann Kepler (1571-1630), inventor do telescópio.

Galileu em face da Inquisição, por Cristiano Banti

Ilustração 9: Por suas descobertas e defesa das idéias de Copérnico, Galileu foi convocado pela Inquisição e teve que renunciar ao conhecimento desenvolvido sob ameaça de ser condenado a morte. Apesar da censura e repressão, os estudos e descobertas de Galileu ainda hoje são utilizados em importantes áreas de conhecimento como a Física Moderna, por exemplo.

Fonte:http://blogs.estadao.com.br/daniel-piza/de-galileu-galilei-ao-et-do-panama/

Esse espírito investigativo e científico também pode explicar o desenvolvimento de embarcações mais ágeis e leves, instrumentos náuticos e confecção de cartas geográficas mais detalhadas, que foram fundamentais para o sucesso das Grandes Navegações e as conseqüentes conquistas coloniais. Talvez personagens como Cristovão Colombo não tivessem tanta convicção de suas ideias se não convivessem em uma época tão rica em produção de conhecimento e contestação de verdades estabelecidas.

Como bem disse a professora Janice Theodoro:
No quadro de Leonardo da Vinci, Mona Lisa (Gioconda), surpreende-nos o equilibro e a perfeição Michelangelo domina a pedra, com a mesma loucura com que os descobridores esculpem sobre a cultura pré-colombiana suas Igrejas, seus palácios, suas cidades, seus filhos... Descobrir a América, subjugar culturas estabelecidas em continentes desconhecidos, provar que a Terra é redonda e montar uma economia centralizada na Europa são gestos humanistas, gestos do descobridor de um homem renascentista.10

O que facilitou sobremaneira a difusão dessas ideias foi a invenção da imprensa por Johann Gutemberg em 1445. A imprensa, que era um sistema com tipos metálicos moveis, pouco a pouco substituiu a produção de livros manuscritos por livros impressos, o que levou informação para um numero maior de pessoas, contribuindo para a educação e desenvolvimento da chamada cultura letrada por toda a Europa.

8A unificação italiana aconteceria séculos depois em 1870.

9Alguns dos mais famosos mecenas foram os Médici de Florença que acumularam fortuna criando bancos e manufaturas têxteis que empregavam mais de 10 mil trabalhadores. Os Medici patrocinaram, entre outros Petrarca, Bocaccio, Botticelli e Michelangelo. Mas até algumas autoridades religiosas se constituíram como mecenas. Os casos mais conhecidos são os papas Leão X e Júlio II.

10 THEODORO, Janice. “Descobrimentos e Renascimento”. In: Repensando a Historia. São Paulo: Editora Contexto, 1991, p. 64


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