sexta-feira, 6 de abril de 2012

O nascimento de uma nova economia - parte 2 de 4

O nascimento de uma nova economia - parte 2 de 4

A razão (de ser) dos carneiros é fornecer leite e lã; a dos bois é lavrar a terra; e a dos cães é defender os carneiros e os bois dos ataques dos lobos. Se cada uma destas espécies de animais cumprir a sua missão, Deus protegê-la-á. Deste modo, fez ordens, que instituiu em vista das diversas missões a realizar neste mundo. Instituiu uns os clérigos e os monges para que rezassem pelos outros (...). Instituiu os camponeses para que eles, como fazem os bois com o seu trabalho, assegurassem a sua própria subsistência e a dos outros. A outros, por fim, os guerreiros, instituiu-os para que (...) defendessem dos inimigos, semelhantes a lobos, os que oram e os que cultivam a terra. 1

Quando não influenciava e controlava pelos meios de dominação ideológica, a Igreja lançava mão de instrumentos violentos e coercitivos. Em 1231 criou o Tribunal do Santo Oficio, também conhecido como Santa Inquisição, que prendeu, interrogou, torturou e queimou vivas milhares pessoas que praticavam rituais considerados hereges ou mesmo as que não concordavam com a forma de pregação, orientação espiritual e comportamental dada pelos religiosos católicos. 2

A partir do século XI findaram-se as invasões bárbaras. Isso, combinado com aumento da produção agrícola, graças ao melhoramento das técnicas e melhor aproveitamento das terras com drenagem de pântanos, possibilitou um crescimento demográfico significativo no período, o que demandava a necessidade de um sistema que melhor distribuísse os produtos dentro e fora dos feudos.

Começa-se a produzir excedentes agrícolas e animais, o que estimula alguns servos a levarem seus produtos para serem trocados em feiras formadas normalmente nos mansos senhoriais, que, por questões de segurança, se organizam em torno dos castelos de seus Senhores Feudais. Com o passar do tempo e com a necessidade de agilizar e facilitar essas trocas, as moedas voltam a circular e pouco a pouco elas vão retomando sua importância, se tornando meio de riqueza e substituindo a terra (feudos) como instrumento de diferenciação e ascensão social. A esse processo interno, que podemos denominar de renascimento comercial, soma-se um importante elemento externo que contribuiu decisivamente para que o comércio voltasse a ser elemento fundamental na distribuição de mercadorias na Europa: as Cruzadas.

No final do século XI, os turcos muçulmanos tomaram Jerusalém, cidade santa para a Igreja Católica, proibindo a peregrinação de cristãos até o chamado Santo Sepulcro. O papa Urbano II convoca então, no ano de 1096, a nobreza cristã para expulsar os muçulmanos de Jerusalém e retomar o controle da cidade. A guerra entre a nobreza cristã europeia contra os turcos muçulmanos, invasores de Jerusalém, foi denominada de Cruzada.

Foram ao todo oito cruzadas, a última acabou em 1270. Do ponto de vista militar, elas resultaram em estrondoso fracasso, vitimando milhares de nobres que abandonaram seus feudos e jamais voltaram. No entanto, para o comércio, as cruzadas foram importantíssimas pois reabriram antigas rotas comerciais, antes dominadas pelos árabes. Além disso, as cruzadas foram responsáveis por introduzir em território europeu produtos orientais, chamados de especiarias, que eram trazidos pelos cruzados sobreviventes e que, rapidamente, caíram no gosto da população e passaram a ser disputadas e cobiçadas pelos comerciantes, tanto locais quanto itinerantes.


Ilustração 2: Nobres Lombardos sendo abençoados para lutar na Primeira Cruzada. Fonte: http://todopera.wordpress.com/2009/12/24/jueves-24-de-diciembre-2009/

1 Bispo Eadmer de Canterbury. Transcrito por FARIA, Ricardo. História para o Ensino Médio. Belo Horizonte: Editora Lê, 1988.

2 Importante destacar que a Inquisição também esteve presente no Brasil no período colonial. Embora não com tanta força como na Europa, mas ocorreram, principalmente no Nordeste perseguições aos judeus e julgamentos de comportamentos considerados anti-cristãos de muitos brasileiros e portugueses. Nota do autor.

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