sexta-feira, 6 de abril de 2012

A nova economia transformando a religião - parte 2 de 4

A nova economia transformando a religião

- parte 2 de 4

A riqueza, em linhas gerais, não era tida moralmente como correta pela Igreja medieval. Citações na própria bíblia são encontradas a respeito do assunto. Em Mateus, por exemplo, existe citação muito clara e famosa quanto a riqueza: “É mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no reino de Deus.”

Portanto, era gigantesca a contradição entre aquilo que a Igreja Católica ensinava e o que praticava, e basicamente esses fatos, aliado a influência cada vez maior da burguesia que buscava uma Igreja mais simpática aos seus negócios, é que mobilizaram personagens como o monge agostiniano Martinho Lutero a promover uma profunda reforma religiosa.

Martinho Lutero (1483-1546) nasceu em Eisleben, cidade atual do estado da Saxônia, na Alemanha. Estudou Direito e aos 22 anos ingressou na ordem dos Agostinianos em função de uma promessa que havia feito a Santa Ana. Logo se destaca por intensa dedicação e estudo das escrituras e da filosofia escolástica. Em 1508 é transferido para a Universidade de Wittenberg onde se destaca como professor. Viaja a Roma, sede do papado. Volta muito constrangido e decepcionado com a comercialização de relíquias religiosas e venda de indulgências.

Estudando profundamente os textos de intelectuais bíblicos, especialmente São Paulo, conclui que as boas obras ou ações de caridade são ineficazes para alcançar-se a salvação. Cada vez mais se convence que apenas a fé e a misericórdia de Deus são suficientes para atingir tal fim. Passa a discordar radicalmente de alguns dogmas católicos, como o celibato e adoração de santos, ao mesmo tempo em que passa a defender que qualquer cristão pode interpretar livremente a bíblia que, para Lutero, devia se constituir na única fonte de fé.

Em 1514 o papa Leão X determina nova cobrança de indulgências para financiar a construção da Basílica de São Pedro e nomeia o frade dominicano Tetzel para executar tal tarefa em Wittenberg. Lutero discorda de forma contundente contra o discurso de Tetzel em praça publica e depois afixa as famosas 95 teses na porta da Igreja da cidade.

As teses basicamente traziam fortes críticas ao papa e ao desregramento moral da Igreja, além de explicar sua nova doutrina, baseada nos longos anos de estudo da bíblia e seus intérpretes.

Ilustração 11: Cena de Lutero afixando suas 95 teses. Fonte:http://teologiaeapologetica.blogspot.com/2010/07/as-95-teses-de-martinho-lutero-por.html


Seguem quatro dessas teses, apenas para se ter ideia das posições de Lutero quanto ao momento vivido pela Igreja:

43. Deve-se ensinar aos cristãos que, dando ao pobre ou emprestando ao necessitado, procedem melhor do que se comprassem indulgências.

50. Deve-se ensinar aos cristãos que, se o papa soubesse das exações dos pregadores de indulgências, preferiria reduzir a cinzas a Basílica de S. Pedro a edificá-la com a pele, a carne e os ossos de suas ovelhas.

75. A opinião de que as indulgências papais são tão eficazes a ponto de poderem absolver um homem mesmo que tivesse violentado a mãe de Deus, caso isso fosse possível, é loucura.

86. Do mesmo modo: por que o papa, cuja fortuna hoje é maior que a dos mais ricos Crassos, não constrói com seu próprio dinheiro ao menos esta uma Basílica de São Pedro, ao invés de fazê-lo com o dinheiro dos pobres fiéis?

O resultado é que as teses rapidamente se espalham pela Alemanha e outras regiões europeias (graças a um invento recente aqui já comentado: a imprensa). Conquistou todos os níveis sociais, mas principalmente a nobreza, que queria se livrar dos impostos da Igreja católica e ao mesmo tempo ambicionava as imensas propriedades da mesma.

Cinco anos depois da publicação das teses, o Papa Leão X excomungou Lutero que, caso não contasse com a proteção dos príncipes nobres alemães13, certamente teria sido condenado a morte pela Inquisição. Lutero traduz a bíblia para o alemão e é apoiado cada vez mais pela nobreza alemã que protesta contra as perseguições e proibições da difusão do luteranismo para outras regiões do Sacro Império impostas pelo imperador Carlos V, daí o nome de protestantismo que se deu ao movimento de reforma religiosa iniciado por Lutero.

13 Nessa época, a exemplo da Itália, não podemos falar de uma nação alemã, pois o território estava fragmentado em vários principados semi independentes sob a denominação geral de Sacro Império Romano Germânico A Alemanha como conhecemos hoje, só se unificou em 1870.

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