segunda-feira, 9 de abril de 2012

Surgem as máquinas e a nova economia muda de face

Surgem as máquinas e a nova economia muda de face







Ilustração 24: Napoleão Bonaparte à frente de

seus oficiais e exercito. Fonte:http://cafehistoria.ning.com/

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Quando a “nova economia” que tanto citamos surgiu, e já mencionamos isso, a principal característica era o comércio e a circulação das mercadorias. Ou seja, o capitalismo comercial, ou mercantilismo, consistia basicamente na exploração de produtos primários e metais preciosos que eram posteriormente comercializados. A mercadoria valia mais na medida em que era rara ou inexistente na Europa, ou então de acordo com a quantidade de quilômetros em que foi transportada da sua área de origem (Ásia, África ou América) até o mercado europeu.

Isso explica porque produtos tão corriqueiros nos dias atuais, como pimenta do reino, cravo, açúcar, tabaco, naqueles tempos de mercantilismo eram tão valiosos e geravam verdadeiras fortunas. Isso também pode explicar porque alguns países, como Portugal e Espanha que não investiram na produção interna e se beneficiaram exclusivamente da exploração colonial, entraram numa acentuada decadência econômica quando o capitalismo comercial deixou de ser hegemônico.

Mas o capitalismo, por sua dinâmica própria, está sempre se renovando. Já em fins da Idade Media e começo da Moderna, observa-se que a produçãoera também elemento importante para a disponibilização de mercadorias para o comércio.

O processamento de matérias primas, que no processo manufatureiro adquiria novas feições para dar mais conforto e com custo mais acessível a população, pouco a pouco vai mudando a dinâmica do comércio, que também passa a procurar famílias que produzem tecidos e outros produtos manufaturados necessários à uma população cada vez maior na Europa.

Vamos acompanhar, rapidamente como eram as diferentes formas de produção, desde seu início com o sistema artesanal até o advento das máquinas, quando já entramos na Revolução Industrial propriamente dita.

Na baixa Idade Média, a forma de produção corrente era o artesanato que produzia artigos como tecidos, sapatos, móveis, etc. O artesão é o dono do seu trabalho. Ele possui a matéria prima e as ferramentas necessárias para execução de sua tarefa. Seu trabalho se dá na sua casa e, portanto, ele dita o ritmo de sua atividade, ficando com todo o lucro final do artigo que produziu.

A partir do século XII, surgiram as Corporações de Oficio para regulamentar a produção artesanal nas cidades com mais de 10 mil habitantes. Cada corporação reunia pessoas do mesmo tipo de trabalho (vidreiros, moleiros, etc.). Eram elas, as corporações que normatizavam os preços, qualidade, quantidade, aprendizagem do oficio e até a margem de lucro dos artesãos.

O artesanato, por ser de natureza manual, na maioria dos casos apresentava produtos de muita qualidade e bem acabados, que satisfazia em muito a exigência de seus consumidores. Mas o sistema artesanal trazia um problema que, para a dinâmica de funcionamento do capitalismo, era tido como insolúvel: era um processo demorado que não conseguia atender toda a demanda de produtos.

Ilustração 25: Cena de uma manufatura antiga de sapatos. fonte: http://bellespics.eu/domain/fashionbubbles.com/

A partir do século XVI, com o aumento do mercado consumidor, cria-se uma nova forma de produção que atendia melhor as necessidades da vida moderna: as manufaturas. Por esse sistema, que durou até o século XVIII, surge a figura de um intermediário entre o produtor e o consumidor, o patrão, que tinha a posse das matérias primas e encomendava o trabalho para um grupo de artesãos, que continuavam exercendo seu ofício em casa, mediante os pedidos que recebia do mercado consumidor. Com a manufatura, o trabalhador perde sua independência e praticamente se torna um “tarefeiro assalariado” dependente do patrão-investidor .26

A partir do século XVIII surgiram as máquinas e as manufaturas foram sendo substituídas pelo sistema fabril. Agora o trabalhador executa suas tarefas num recinto fechado, a fábrica, em horário estipulado e supervisionado por um chefe (que pode até ser o patrão dependendo do tamanho do estabelecimento). Na fábrica o trabalhador perde totalmente autonomia sobre o seu trabalho, executando apenas uma parte da produção e trabalhando em equipes. Era o sistema de divisão de tarefas que aumentava por dez a produção em relação, por exemplo, ao trabalho artesanal. Os meios de produção (máquinas, ferramentas, matérias primas) são do patrão e ao trabalhador cabe uma ínfima parte dos lucros gerados por seu trabalho chamada de salário.

Uma inovação que surgiu nessa época e que potencializou ainda mais o sistema fabril, mexendo inclusive nas relações sociais e políticas, além de econômicas, foi a introdução da força mecânica, além da força humana, para a produção de mercadorias. Era a Revolução Industrial em curso, iniciada na Inglaterra na segunda metade do século XVIII, que de forma resumida podemos definir como o momento em que as máquinas passam a ser introduzidas na produção de mercadorias.

O nome dessa nova forma de produção, que inaugurou a Revolução Industrial, foi a maquinofatura, que em território britânico, ocupou quase que totalmente o espaço das antigas manufaturas.

As inovações técnicas, ligadas a produção, foram ocorrendo em velocidade espantosa e a cada invento, normalmente ligado à produção têxtil, exigia que outros setores também sofressem atualizações. Foi dentro desse espírito, de corrida tecnológica que o parque industrial foi crescendo e tornando a economia inglesa rapidamente a mais progressista e poderosa do mundo.27

A primeira fonte energética que colocava as máquinas em movimento era o vapor. Inicialmente usada na indústria têxtil, a máquina a vapor rapidamente passou a ser empregada em outros setores como a metalurgia e extração de minérios. Já no início do século XIX, o vapor também passa a ser a força motriz de barcos e ferrovias, potencializando os meios de transportes para a circulação de cargas pesadas e depois também para o transporte de passageiros. Outro setor bastante incrementado com a máquina a vapor foi o das comunicações, pois as gráficas de livros, jornais e revistas passaram também a produzir mais, difundindo com maior rapidez a informação, que é elemento essencial para o desenvolvimento tecnológico, propaganda e concretização de negócios.

E quais teriam sido as condições que propiciaram o desenvolvimento da Revolução Industrial primeiro na Inglaterra?

Em primeiro lugar havia muitos capitais, acumulados durante a fase do capitalismo comercial, para serem investidos na industrialização inglesa. Esses capitais foram acumulados basicamente através:

a- do saque, em parceria com os corsários, às embarcações espanholas que traziam metais preciosos de suas colônias na América;

b- da exploração direta de suas colônias americanas realizadas a partir do século XVI na América e também da participação intensa no trafico de escravos do período;

c- do predomínio comercial dos mares a partir dos Atos de Navegação, criados por Oliver Cromwell e que tornou a marinha mercante inglesa a mais poderosa do continente;

d- da exploração indireta do ouro brasileiro, extraído durante quase todo o século XVIII da região atual de Minas Gerais.

Em 1703 houve um acordo comercial entre Portugal e Inglaterra chamado de Tratado de Methuen, que previa a venda do vinho português para a Inglaterra, enquanto os portugueses ficavam comprometidos a abastecer seu mercado interno com os produtos manufaturados ingleses. Esse tratado tornou a economia portuguesa quase que totalmente dependente dos ingleses, e para pagar suas constantes dividas com a coroa britânica utilizava freqüentemente o ouro brasileiro para tal fim.28



26A expressão é de Léo Hubermam, em obra já citada.

27 Só para ilustrar essa afirmação, em 1767 James Hargreaves inventou uma maquina de fiar que, de uma vez, produzia 80 quilos de fios apenas com um trabalhador. Com tantos fios disponíveis era necessário teares mais rápidos que os tradicionais teares manuais. Por isso criou-se o tear hidráulico em 1779 de Crompton, que rapidamente evoluiu para o tear mecânico de Edmund Cartwright em 1785, que já era movido pela maquina a vapor, aperfeiçoada por James Watt em 1765.

28 Por essa razão é que o grande historiador uruguaio Eduardo Galeano, em sua principal obra As veias abertas da América Latina, mencionava que “Da mesma maneira que a prata de Potosi repicava no solo espanhol, o ouro de Minas Gerais só passava de trânsito por Portugal. A metrópole portuguesa converteu-se em simples intermediária

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