sexta-feira, 6 de abril de 2012

O nascimento de uma nova economia - parte 4 de 4

O nascimento de uma nova economia - parte 4 de 4

Para a burguesia esse apoio era importante. Com o poder centralizado na figura do rei, os pesos e medidas, que em muitas regiões eram diferenciados de acordo com o costume local, foram padronizados, o que facilitava sobremaneira as transações comerciais, principalmente as de longa distância. Com a figura real, centralizava-se também o pagamento de impostos, o que, em teoria, possibilitava a formação de exércitos nacionais, necessários para garantir maior segurança a seus habitantes, o que também era muito interessante para os comerciantes.

Ao mesmo tempo, para o rei, a associação com a burguesia era extremamente vantajosa, porque significava maior arrecadação de impostos, o que além de propiciar a formação de efetivos militares e possibilitar uma melhor administração de seus territórios, aumentava seu poder em relação, principalmente, aos Senhores Feudais que já estavam em franca decadência em função das Cruzadas e da perda sobre a jurisdição de varias cidades instaladas em seus feudos. Em suma, estava consolidada a parceria rei e burguesia, essencial para a formação e constituição dos Estados Modernos na Baixa Idade Média como Portugal, Espanha, França, Inglaterra e Holanda.

Com isso, progressivamente foram sendo incorporados à economia europeia elementos novos, mais dinâmicos e que se distanciavam em muito da economia feudal. Pouco a pouco foram se estabelecendo categorias como lucro, salário, preço, juros, enfim, o capitalismo, ainda em sua fase comercial, começa a substituir o modo de produção feudal. Neste caso, o que apressou sobremaneira o processo de esgotamento do sistema feudal foram crises que ocorreram ao mesmo tempo durante o século XIV.

Embora as técnicas agrícolas tenham evoluído a partir do século XI, com o passar dos anos constatou-se que eram insuficientes e ainda rudimentares para atender o crescimento populacional verificado, especialmente, com uma melhor distribuição dos alimentos via comércio.

Bastava algum período de seca ou estiagem muito longo para que a fome passasse a conviver com a população europeia, sobretudo a população camponesa. Especialmente no período entre 1315 e 1317 a fome crônica se abateu sobre a população por conta das baixas colheitas em função dos baixíssimos índices de chuva no período, época que passou a ser denominada de a Grande Fome.

O que contribuiu em muito com a fome crônica no século XIV foi um dos conflitos armados mais longos da história: a Guerra dos Cem anos, envolvendo França e Inglaterra. Apesar do nome, essa guerra durou mais de cem anos (1337 a 1453) e os principais combates ocorreram na Europa Ocidental, destruindo vastos campos de plantações, paralisando atividades comerciais de muitas feiras, além de acabar com muitas vidas. À guerra e à fome, agregou-se um terceiro e fulminante elemento, ocorrido a partir de 1348, muito em função dos dois anteriores: a Peste Negra.

Vinda muito provavelmente do Oriente através de navios genoveses, esse doença se alastrou de forma muito rápida na Europa em função da fraqueza de corpos castigados pela fome e guerra, sobretudo porque os seus principais transmissores, os ratos, se proliferavam muito facilmente em razão da sujeira e lixo característicos das cidades medievais. Foi um desastre demográfico poucas vezes visto em toda a historia. Calcula-se que, durante todo o século XIV, tenha vitimado algo em torno de 25 milhões de habitantes. Com isso a população europeia retraiu-se drasticamente, praticamente voltou ao numero de habitantes que tinha no século XI, em torno de 45 milhões de habitantes.


Ilustração 4: cena típica de uma cidade que sofria com a peste negra. Fonte: http://bo.kalipedia.com/graficos/peste-negra.html?x=20070417klpcnavid_18.Ges

Pandemias dessa natureza, por razões desnecessárias de explicar, atingem a população mais pobre, que no contexto atualmente abordado era, em sua gigantesca maioria, formada por servos. É importante destacar esse fato, pois a vida dos que sobreviveram, que já era extremamente sofrida, passou a ser mais complicada em função da superexploração de sua força de trabalho e cobrança de impostos (agora em dinheiro e não mais in natura ou em serviços).

O raciocínio para entender esse fato é relativamente simples: os senhores cobravam o mesmo nível de trabalho e impostos arrecadados de uma quantidade de servos que em muitos feudos reduziu-se pela metade em função das guerras, fome e epidemias.

Esse processo desencadeou, em grandes regiões da Europa, revoltas gigantescas de camponeses famintos e cansados da superexploração de seus senhores.

Na França, por exemplo, essas revoltas receberam o nome de jacqueries e a mais conhecida delas ocorreu em 1358, quando castelos foram violentamente invadidos, a nobreza feudal atacada, plantações e feiras destruídas. Calcula-se que a repressão às jacqueries tenha matado em torno de 20 mil servos.

Com esse quadro caótico composto por guerras, doenças, fome e revoltas dos pobres, reforça-se cada vez mais a impressão que se vivia em um mundo sem direção e sem autoridade. Junto a essa impressão vai se reforçando também a ideia de que apenas os reis, com sua autoridade (dada por Deus, segundo a crença da época) e poder unificados é que poderiam reorganizar a vida social e econômica dessas regiões.

Estavam dadas todas as condições para a formação dos Estados Modernos, com poder centralizado nas mãos dos reis, e com auxílio essencial da burguesia, classe social que se tornava cada vez mais influente a partir da Baixa Idade Média.

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