sexta-feira, 6 de abril de 2012

A nova economia transformando a religião - parte 3 de 4

A nova economia transformando a religião

- parte 3 de 4

Só em 1555, através da Paz de Augsburgo, é que Carlos V, que era católico, reconhece a liberdade e o direito de cada príncipe determinar qual doutrina seguir em sua jurisdição. Com isso praticamente dois terços do território alemão, já em meados do século XVI, se torna protestante.

O problema para a Igreja Católica, e todos os governantes que se colocavam contra o protestantismo, é que as ideias de Lutero passaram a ser adotadas em boa parte dos nascentes Estados europeus.

Calvino, em linhas gerais, incorporava os princípios luteranos mas defendia muito o princípio da predestinação para a salvação dos cristãos. Entendia que Deus já havia escolhido aqueles que seriam salvos no paraíso e aqueles condenados a danação antes do cristão vir a terra. Para se descobrir entre os salvos e condenados bastava observar sua condição social. Se rico, com posses e propriedades, sinal de que Deus estava ao lado, caso contrario...

Essa concepção praticamente se constituía na explicação espiritual que a burguesia buscava para suas atividades.

Com o calvinismo o comércio, lucro, juros, salários, investimentos passavam a ser aceitos dentro do mundo cristão e não mais condenados, ao menos na teoria, como nos tempos do predomínio católico. Nas regiões onde o calvinismo se espalha as pessoas trabalhavam, levavam uma vida rigorosamente regrada e poupavam cada vez mais, procurando um nível de vida cada vez mais endinheirado, pois isso agora era sinal de que Deus abençoara aquela casa.

As ideias de Calvino tomam toda a Suíça, se difundem cada vez mais e na França os calvinistas passam a ser chamados de huguenotes, na Inglaterra de puritanos e na Escócia de Presbiterianos.

O sociólogo alemão Max Weber (1864-1920) desenvolveu interessante tese em que associa a doutrina calvinista com o desenvolvimento do capitalismo no mundo ocidental. Para Weber, o núcleo da análise social consistia na interdependência entre religião, economia e sociedade.

No seu conhecido livro A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo (1904-1905)14, Weber expunha por que haviam surgido no âmbito ocidental, dentro do contexto da Reforma Protestante, elementos culturais que iriam assumir um significado e uma validade para toda a Europa e América. O protestantismo e, especialmente, o calvinismo teriam estabelecido as bases do sucesso econômico, da racionalização da sociedade ocidental e, por último, do desenvolvimento do capitalismo.

Para ele, os países que adotaram o protestantismo se desenvolveram mais rapidamente na lógica capitalista de produção, o que os alçou a condição de potências econômicas nos dias atuais. Em contrapartida, os países que permaneceram essencialmente católicos não se desenvolveram tanto e estariam na “periferia” do sistema capitalista contemporâneo.

Vimos que na Inglaterra o calvinismo, lá chamado de puritanismo, se torna corrente religiosa importante, especialmente nas camadas mais ricas de comerciantes e grandes proprietários de terra. Mas o puritanismo rivalizou com a Igreja criada pelo rei absolutista Henrique VIII em 1534, o anglicanismo.

Em território inglês ficou muito claro, através das ações de seu soberano, os interesses políticos e econômicos que estavam por traz da reforma protestante que realizou. Como não tinha filhos homens para sucedê-lo, queria se divorciar de sua mulher, a rainha Catarina de Aragão (filha dos reis católicos espanhóis e tia de Carlos V, imperador do Sacro Império Romano Germânico) para se casar com Ana Bolena.

O papa, por suas ligações políticas com Carlos V não autoriza o divorcio e o rei inglês então rompe oficialmente com a Igreja católica através de um documento aprovado pelo parlamento inglês, o Ato de Supremacia. Com isso, a Inglaterra passa a adotar o anglicanismo como Igreja oficial do país, tendo na figura do rei sua maior autoridade.

As autoridades católicas são expulsas da ilha e as tão cobiçadas terras da Igreja passam a ser do Estado que as comercializam com a nobreza, que nessa época já estava quase que totalmente influenciada pelas práticas burguesas de exploração rural e torna os campos ingleses imensos pastos de ovelhas, de onde se tirava a lã, matéria prima essencial para as crescentes manufaturas têxteis.

14 WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Biblioteca Pioneira de Ciências Sociais, 1989.

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